segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Texto: A Transformação da Mente - 1º Parte

A Transformação da Mente - 1º Parte

Rodrigo Abarca - Publicação: 17/12/2011
 
 
 
O processo de transformação –ou metamorfose– do cristão à semelhança de Cristo começa com a renovação do entendimento Rm 12.1-2

A carta aos Romanos pode ser dividida em duas partes: uma primeira, que começa no capítulo 1 e termina no capítulo 11, e uma segunda, que começa no capítulo 12 e vai até o final da carta, no capítulo 16. Romanos, da mesma forma que Efésios, têm uma primeira parte dedicada aos aspectos da revelação da obra de Deus em Cristo, e uma segunda parte, que é a aplicação da primeira.

Os que conhecem os escritos de Paulo sabem que o apóstolo se preocupa muito de que o que foi revelado tenha sempre uma aplicação prática. Não se contenta em declarar os feitos, as coisas que Deus tem feito em Cristo, mas lhe interessa que estas coisas se traduzam em experiência para a vida da igreja.

Nunca há uma instrução ou um ensino sobre a vida prática que não esteja fundamentada na revelação. Mas, por outro lado, nunca há uma verdade revelada de Deus em Cristo que não esteja logo aplicada à experiência prática. São como as duas asas de uma ave; que necessita de ambas para voar.

Então, nesta segunda parte de Romanos, o apóstolo Paulo nos introduz na vida cristã prática; mas essa vida cristã prática é fundamentada nos outros onze capítulos que ele escreveu. As misericórdias de Deus O versículo 1 do capítulo 12 começa com a expressão: «Assim que…». Esta é uma expressão que percorre toda a carta. Em outras partes se traduz «portanto…», mas a expressão grega é a mesma. E isso significa que o que ele vai dizer está apoiado em tudo o que ele já disse até este momento, que inclui os primeiros 11 capítulos de Romanos.

Agora, veja que importante isto, porque o que ele disse até aqui é realmente abundante em revelação. E esse «portanto…» é a porta de entrada ao que vem a seguir: a vida cristã prática.

«Assim, irmãos, rogo-vos pelas misericórdias de Deus…». A primeira parte de Romanos, então, trata das misericórdias de Deus. Que maravilhoso!

Uma dessas misericórdias é a eleição de Deus. Mas Paulo nos dirá que não apenas a eleição divina é um ato misericordioso de Deus, mas a totalidade da vida cristã se fundamenta nas misericórdias de Deus. Ele vai mencionar pelo menos cinco grandes misericórdias que Deus tem feito conosco em Cristo Jesus. E elas têm um propósito, são os fundamentos da vida cristã. Quando você pensa em construir uma casa, primeiro tem que colocar fundamentos. Se a vida cristã prática for a casa, os fundamentos dela são estas misericórdias de Deus. Sem elas, não se pode edificar.

Muitos dos problemas que temos em nossa vida prática se devem a que nossos fundamentos não foram colocados de maneira adequada. Em 1ª Coríntios 3:10, Paulo diz: «Eu, como perito arquiteto, pus o fundamento». Em seguida diz: «Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que está posto, o qual é Jesus Cristo» (V. 11).

Pôr esse fundamento requer certa perícia, que nem todos têm. Por isso diz: «Eu, como perito arquiteto…», embora a palavra arquiteto fosse melhor traduzido como construtor. O arquiteto é o que faz os planos, mas aqui está falando de quem constrói.

Para pôr fundamentos, você tem que saber. E principalmente em um país como o Chile, que é sísmico. O mesmo Senhor ensinou, no Sermão do Monte, quão importante é o assunto do fundamento sobre o qual se edifica a casa, neste caso, a nossa vida cristã.

Depois do terremoto de fevereiro de 2010, viajamos com alguns irmãos a Concepción, e passamos a única ponte que ficou em pé sobre o rio Biobío, que justamente cruza pelo lugar onde desabou um edifício. Era um espetáculo realmente aterrador: aquele imenso edifício completamente deitado no chão. E, quando os peritos foram investigar a causa da queda, foi descoberto um grande problema: o edifício foi literalmente construído sobre a areia. Isto é uma comprovação da parábola do Senhor Jesus.

Agora, outros edifícios também foram levantados ali, mas com eles foram cavados o suficiente, até encontrar a rocha. As pessoas que construíram aquele edifício, não o firmaram sobre a rocha. «…E vieram rios, e sopraram ventos, e deram com ímpeto contra aquela casa; e caiu, e foi grande a sua ruína» (Mat. 7:27), porque estava edificada sobre a areia.

Nestas palavras, detectamos algo muito importante. O Senhor disse: «…vieram rios, e sopraram ventos…». Sempre e inevitavelmente, soprarão os ventos e virão os rios contra a nossa vida. O Senhor o disse; não se pode evitar. Você gostaria que não houvesse ventos, inundações, perigos; mas o Senhor o disse. Nossa vida vai ser provada.

A sua vida, minha vida com o Senhor, vai ser provada. Porque a única forma de saber se os fundamentos estão bem colocados é pondo-os a prova. Irmãos amados, o que o Senhor procura em nós é realidade. O que Deus quer em sua vida são coisas reais; mesmo que seja pouco, mas que seja real. Não quer aparências, não quer questões falsas, errôneas. E, como ele quer que a verdade esteja em sua vida, ele vai comover uma e outra vez os fundamentos da sua vida.

Em Hebreus diz que, o Deus que um dia comoveu a terra com a sua voz, novamente comoverá a terra e os céus; e todas as coisas que sejam mutáveis serão comovidas, para que fiquem as incomovíveis. Se pudéssemos descrever a vida cristã, eu diria que é isso. Deus comove tudo em nossa vida, para que fique o que não pode ser comovido.

Por isso, os fundamentos são essenciais. Se a sua vida não tiver bons fundamentos, inevitavelmente, você vai sofrer e vai ter problemas. Por isso, o apóstolo Paulo dedicou 11 longos capítulos de sua carta aos Romanos, para falar dos fundamentos ou das misericórdias de Deus.

E quando Paulo começa a dizer: «…rogo-vos pelas misericórdias de Deus», está fazendo alusão a todos esses fundamentos, que são essenciais para a vida cristã; e para a edificação não só da vida pessoal de cada um dos crentes. Se você seguir lendo verá que, a partir do versículo 3 do capítulo 12, Paulo vai nos falar da igreja, que é o corpo de Cristo. Porque o lugar onde se vive e se realiza a vida cristã é, segundo o desenho de Deus, a igreja.

Colaborando com Deus

No versículo 2, diz algo mais: «Não vos conformeis a este século, mas transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento, para que comproveis qual seja a boa vontade de Deus, agradável e perfeita». A palavra comprovar significa conhecer por experiência. E, quando Paulo fala da boa vontade de Deus, está se referindo ao propósito eterno de Deus (Rom. 8:28-29), agora conhecido e experimentado por nós.

Uma coisa é a revelação do propósito de Deus, mas agora Paulo fala de experimentar, ou viver nesse propósito. Porque Deus não só quer que o conheçamos intelectualmente; ele quer que vivamos por meio do seu propósito. Se você sozinho souber a sua vontade, mas não vive nessa vontade, não serve de nada. Então, Paulo diz: «…para que comproveis…», ou o mesmo que dizer: «para que conheçam e vivam a boa vontade de Deus».

«…aos que antes conheceu, também os predestinou para que fossem feitos conforme à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos» (Rom. 8:29). Essa é a vontade de Deus. Mas agora está falando de que essa vontade de Deus se converta em nossa experiência. A isto fomos chamados. Glórias ao Senhor!

Por isso, Paulo diz: «Não vos conformeis a este século, mas transformai-vos…». A expressão «transformai-vos», no grego, está no que chamamos ‘voz media’. Em português, temos duas vozes. Quando dizemos que executamos algo, usamos a chamada voz ativa: «Eu faço, eu atuo». Quando digo que eu recebo sobre mim a ação de outro, então usamos a voz passiva. Mas o grego tem uma terceira voz, a voz media. Qual é esta? Quando eu quero dizer que faço algo e, simultaneamente, que outro faz também em mim, quer dizer, a ação eu executo e ao mesmo tempo outro a executa sobre mim, uso em grego a voz media.

Isto é muito importante, porque a transformação, o processo pelo qual nos convertemos de um nada à glória dos filhos de Deus, é um processo que Deus faz, mas no qual nós também temos uma parte. Por isso, usa-se a voz media. «transformai-vos…». Não diz: «Sede transformados…», porque isto significaria que teríamos que ficar sentados e esperar que Deus fizesse tudo. A ênfase não está em que Deus faz tudo; nem tampouco diz que eu tenho que fazer tudo sozinho, porque seria impossível. Deus faz, e eu respondo também ao que ele faz.

Nestes dias, Deus nos falou da graça e da responsabilidade, e nos mostrou que estas duas coisas não se podem separar. A vida cristã não é apenas graça nem só responsabilidade. Se fosse só graça, converter-se-ia em libertinagem, e se fosse só responsabilidade, converter-se-ia em legalismo. Mas a vida cristã é graça e responsabilidade – nessa ordem. É graça que busca uma resposta da nossa parte; nossa colaboração. Isso significa responsabilidade.

Transformados

A palavra grega que foi traduzida aqui como «transformai-vos», é utilizada habitualmente no estudo dos insetos, que é metamorfose. Esta palavra aparece mais duas vezes no Novo Testamento. Uma em 2ª Coríntios 3:18: «portanto, todos nós, olhando o rosto descoberto como em um espelho a glória do Senhor, somos transformados –metamorfoseados– de glória em glória na mesma imagem…». E o outro texto está em Mateus 17:1-2: «Seis dias depois, Jesus tomou a Pedro, a Tiago e a João seu irmão, e os levou à parte a um alto monte; e se transfigurou –se metamorfoseou– diante deles…». O Senhor se transfigurou diante dos seus discípulos, quer dizer, adotou uma figura distinta; revelou a sua glória. Eles já não o viram com o véu da carne, mas transfigurado.

Quando vemos a Jesus transfigurado, naquela glória com a que apareceu aos seus discípulos, nós vemos o propósito de Deus para a nossa vida. Jesus glorificado; essa é a imagem a qual Deus nos quer transformar. Você pode notar tudo o que Deus tem em mente? Esse Senhor transfigurado é a imagem a qual Deus nos predestinou, para que sejamos semelhantes a ele. Nós, que somos menos do que nada, pobres, miseráveis, pecadores, cegos, nus… fomos predestinados, para um dia sermos feitos semelhantes a Jesus Cristo.

Mas alguém pode perguntar: ‘Como? Chegarei lá algum dia? Será possível que eu seja transformado?’ Se observarmos a nossa vida cristã, não parece que todo esse assunto é muito lento? Não nos parece que não mudamos nunca? E que passam os anos, e os mesmos enganos, fraquezas e fracassos seguem ali? Pois, a maioria de nós avançamos lentamente.

Mas eu creio que Deus quer, e que é a sua vontade que sejamos transformados à imagem de seu Filho Jesus Cristo. Creio, porque está escrito, e Deus não pode mentir. Porque para isso nos criou, para isso nos predestinou, e é por isso que queremos. Você quer mudar e quer ser diferente, não porque você é bom. Isto não nasceu de você. Deus o plantou em seu coração! É o desejo de Deus que arde em nós, porque somos seus filhos.

Então, irmãos amados, eu creio que o Senhor, em sua misericórdia, dá-nos uma chave essencial para a vida transformada aqui em Romanos 12:1-2.

Paulo está nos dizendo algo importante: a transformação é uma obra de Deus, mas também é obra nossa. Há uma parte que Deus faz, mas há uma parte que nos fazemos. A mais importante, a essencial, é a que Deus faz. A parte de Deus está contida nessa pequena frase: «as misericórdias de Deus». Elas contêm a parte que Deus faz em nossa transformação.

A nossa parte é a que vem a seguir: «Não vos conformeis a este século, mas transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento…» (12:2). O apóstolo Paulo coloca aqui uma frase chave para a vida cristã prática, e que penso é algo que nós passamos por cima constantemente. De alguma maneira, não nos damos conta com facilidade disto. Diz: «transformai-vos…», e nos diz como: «…por meio da renovação do vosso entendimento».

Um comentário:

  1. ..."os fundamentos são essenciais. Se a sua vida não tiver bons fundamentos, inevitavelmente, você vai sofrer e vai ter problemas. Por isso, o apóstolo Paulo dedicou 11 longos capítulos de sua carta aos Romanos, para falar dos fundamentos ou das misericórdias de Deus..."

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